Retrospectiva 2014 (Parte 2): o que marcou o ano na astronomia e na exploração espacial

Para finalizar nossa retrospectiva, vamos falar do maior feito do ano, o memorável pouso no cometa, e também de mais uma morte na exploração espacial. Não deixe de ler a 1ª parte da retrospectiva. Compartilhe no Facebook. Confira:
 - Brasileiro descobre anéis num asteroide
 - O histórico pouso no cometa
 - O 1º cometa brasileiro: uma controvérsia
 - Cometa passando por Marte
 - Os acidentes da exploração privada do espaço
 - Sonda indiana em orbita de Marte




     Brasileiro descobre anéis num asteroide
O brasileiro Felipe Braga-Ribas descobriu que não são só os grandes planetas do Sistema Solar que possuem anéis. Em março, foi divulgada a pesquisa que comprova a existência de anéis no asteroide Chariklo, um objeto de 250 km que orbita entre Júpiter e Netuno. A detecção foi feita a partir do fenômeno da ocultação, ou seja, a uma queda momentânea do brilho de um corpo celeste quando outro objeto passa a sua frente. Nesse caso, o asteroide Chariklo passou em frente a uma estrela em 3 de junho de 2013 e, além da esperada queda de brilho da estrela no exato momento da ocultação, foi observado pequenas variações de brilho antes e depois da ocultação, o que foi uma surpresa e depois abriu caminho para a descoberta.
Posteriormente, constatou-se a existência de dois anéis: um de 3 km e outro de 7 km, possivelmente de gelo.
A importância dessa descoberta vai além do estudo da dinâmica dos anéis planetários ou do estudo da formação do Sistema Solar. Ela mostra que a pesquisa da astronomia no Brasil não está fadada ao fracasso, e que com muito trabalho, conseguimos estar entre os melhores do mundo.
 
 O histórico pouso no cometa
Sem dúvida, esse foi o acontecimento do ano para a ciência e único na história da exploração espacial. Em 12 de novembro, sete horas após se desacoplar da sonda espacial não tripulada Rosetta, o módulo de exploração Philae pousou (e quicou 2 vezes) na superfície do cometa 67P/ Churyumov-Gerasimenko a aproximadamente 500 milhões de km de distância do nosso planeta. A importância dessa missão é que permitirá aos pesquisadores maiores informações sobre questões fundamentais sobre a vida orgânica na Terra, a formação do Sistema Solar e o estudo dos cometas (que pode ter sido o responsável por trazer a água para a Terra).

O cometa possui formato irregular (4 km x 5 km x 2 km) e uma massa estimada em 10 bilhões de toneladas e em aproximadamente 12 horas ele completa uma volta em torno de seu eixo de rotação. Devido sua superfície ser constituída de partículas minerais que liberadas no espaço se tornam carregadas, por meio das oscilações dos campos magnéticos, a sonda capitou um som peculiar na frequência entre 40 e 50 mHz proveniente do astro, que posteriormente foi transformado em um som audível.
O módulo de pouso Philae possui 98 kg e foi programado para pousar em uma área de 1 km², chamada pelos cientistas de Agilkia. Devido a uma falha na hora do pouso, o robô não lançou suas "garras de ancoragem" no cometa e ficou instável. Essas "garras" foram necessárias devido a baixíssima gravidade do cometa. Assim, ela foi parar numa região muito escura e não pôde contar com os paines solares para realimentá-la.

O primeiro sinal enviado pelo módulo demorou quase meia hora para viajar pelo espaço e finalmente chegou ao centro de controle da operação. Com a confirmação do sucesso da missão, o cientista Jean-Jacques Dordain, diretor-geral da ESA, declarou: “É um enorme passo para a Humanidade. Nossa ambiciosa missão Rosetta assegurou seu lugar nos livros de História. Com a Rosetta, estamos abrindo uma porta para a origem do planeta Terra e promovendo um melhor entendimento de seu futuro. (...) O maior problema do sucesso é que ele faz parecer que a missão foi fácil. Porém, sabemos que só com muito trabalho, dedicação e profissionais excelentes de diversos países conseguimos chegar aqui. O sucesso não vem do céu, vem do trabalho duro. Somos os primeiros a fazer isso e ficaremos na história para sempre."

A missão Rosetta teve início em 2004 e após essa longa viagem trabalhou por 60 horas no cometa, até suas baterias acabarem. Agora, a missão vai esperar o cometa se aproximar do Sol para que as baterias se recarreguem e o módulo desperte novamente. Assim, essa pequena criação humana fez história, sendo o primeiro artefato a pousar num cometa.

      O 1º cometa brasileiro: uma controvérsia
A descoberta foi feita por 3 astrônomos amadores de Minas Gerais, a partir de um observatório particular. Batizado de C/2014 A4 Sonear, o cometa carrega o nome do observatório que o encontrou – Sonear é a sigla para Southern Observatory for Near Earth Asteroids Research.

O cometa foi observado dia 12 de janeiro, e confirmado por astrônomos do Observatório Remanzacco e, depois, foi reconhecida pela União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês), em 16 de janeiro. Cristóvão Jacques, Eduardo Pimentel e João Ribeiro são os responsáveis pela descoberta. Eles começaram a projetar o observatório em 2009 e ficou pronto em junho de 2013. Além desse cometa, eles já descobriram pelo menos 13 asteroides. O C/2014 Sonear tem cerca de 20 quilômetros de diâmetro e vai passar a aproximadamente 420 milhões de quilômetros da Terra, em 11 setembro de 2015 (mas não poderá ser visto a olho nu). Mas a controvérsia começa quando aparecem relatos de que em 1882 foi descoberto também em território nacional o cometa C/1882 R1 Cruls pelo belga, naturalizado brasileiro, Louis Cruls (considerado um patrono da astronomia nacional) do Observatório Imperial do Rio de Janeiro. Mas esse é assunto para outro artigo...

     Cometa passando por Marte
Em 19 de outubro de 2014 o cometa Siding Spring (C/2013 A1) passou bem próximo do planeta Marte. Com um núcleo de 1,6 km de diâmetro e a uma velocidade de 203.000 km/h, ele passou a uma distância de 139.500 km do Planeta Vermelho (isto é, menos da metade da distância entre a Terra e a Lua), impressionando cientistas e pesquisadores de todo mundo, uma vez que esse fenômeno ocorre estatisticamente somente uma vez a cada milhão de anos.
O cometa provavelmente se originou em um local conhecido como Nuvem de Oort (além da órbita de Netuno) e foi descoberto em janeiro de 2013 na Austrália, por Robert McNaught do Observatório Siding Spring, um famoso pesquisador de cometas. Os cientistas que observaram e analisaram a passagem do cometa afirmaram que esse acontecimento ofereceu uma oportunidade única de estudo do seu impacto sobre a atmosfera marciana e que inclusive ela pode ter sido alterada profundamente por causa dos detritos do cometa. Um eventual impacto com o planeta teria energia equivalente a 2x10²º megatons, um verdadeiro apocalipse. Na imagem tirada da Terra, o cometa (canto inferior esquerdo) e Marte.

“Os três orbitadores de Marte confirmaram que estão intactos após se refugiarem atrás do planeta durante a passagem no cometa”, comunicou a NASA em seu Twitter, em alusão às sondas Odyssey, MAVEN e Mars Reconnaissance Orbiter, que estão orbitando Marte.
Para se ter uma ideia, essa passagem foi 10 vezes mais perto do que qualquer cometa se aproximou da Terra em toda nossa história.

     Os acidentes da exploração privada do espaço
O ano que passou foi marcado por dois acidentes que colocaram em debate a exploração privada do espaço.
O primeiro deles (28 de outubro) foi a explosão, segundos depois do lançamento, do foguete Antares, construído pela Orbital Sciences. O lançamento foi feito a partir de uma base comercial numa ilha na Virgínia. Segundo a NASA, que foi a contratante do serviço, ninguém se feriu na explosão. O foguete levaria 2 toneladas de material para a Estação Espacial, em órbita da Terra. Algumas informações sobre esse acidente são interessantes: foi o 1º lançamento desse foguete a noite; a carga total do foguete era 15% mais pesada do que a de missões anteriores; o lançamento estava previsto para um dia antes, mas foi adiado devido a presença de um barco na zona restrita e os motores eram de origem soviética, desenvolvidos na década de 70 para o programa lunar soviético. Esse lançamento seria o terceiro dos oito concedidos à empresa por um contrato de 4,7 bilhões de reais, além de um outro já realizado para testes.

Poucos dias depois (31 de outubro), um outro acidente aconteceu, dessa vez com uma vítima fatal e outro ferido. A nave SpaceShipTwo, da empresa Virgin Galactic explodiu em pleno ar (imagem acima), num de seus testes no deserto de Mojave.
O voo envolvia duas aeronaves: a SpaceShipTwo é aeronave onde ficam os passageiros. Para o lançamento, ela é acoplada à WhiteKnightTwo , que é um avião de transporte. Ela sobe até 15 km de altitude e solta a SpaceShipTwo, que então usa seus foguetes para voar verticalmente até o fim da atmosfera.
O acidente provocou a morte do piloto Michael Alsbury e feriu gravemente seu co-piloto, Pete Siebold. As causas do acidente ainda não foram esclarecidas. A empresa Virgin já vendeu mais de 700 bilhetes para viajar ao espaço a US$ 250 mil cada. Dentre os compradores estão o físico Stephen Hawking, os atores Tom Hanks e Leonardo DiCaprio e o piloto brasileiro Rubens Barrichello.


     Sonda indiana em orbita de Marte
A Índia em 2014 mostrou ao mundo que tem um programa espacial forte e sólido. Foi a primeira nação asiática a colocar uma sonda em órbita de Marte, e a primeira do mundo a conseguir esse feito na primeira tentativa. De todas as 51 missões enviadas, 23 delas falharam.
A sonda MOM, também chamada de Mangalyaan (“nave marciana”, em sânscrito) entrou na órbita marciana em setembro, e se juntou a outras quatro sondas que são os nossos "olhos" em Marte: a Mars Odyssey (EUA), Mars Express (Europa) e Mars Reconnaissance Orbiter (EUA), e a Maven (EUA, que também chegou em 2014). Ela possui 5 instrumentos, entre eles um espectrômetro de imagens térmicas para mapear a superfície e os recursos minerais de Marte e um sensor para detectar metano – o que pode indicar sinais de vida – e outros componentes da atmosfera. Na imagem, a primeira foto de Marte enviada pela sonda.

O que mais impressiona nessa missão é o seu baixíssimo custo, comparado a outros empreendimentos espaciais. A missão custou US$ 74 milhões, um preço tão baixo que chega a ser menos do que o filme Gravidade, que custou US$ 100 milhões. Comparativamente, a missão Maven, da NASA, que também chegou em Marte em setembro, custou quase 10 vezes mais.
Mas esse feito não foi algo isolado. A Índia já enviou uma sonda para a órbita da Lua, fabrica satélites altamente tecnológicos, fez mais de 100 missões, tem lançadores de satélites e centros de lançamentos próprios. E agora, planeja sua primeira missão espacial tripulada em 2016.

Autores: Otávio Jardim e Heloísa Zanlorensi
Fonte: 
Astronomia On-line (30 de dezembro)
Superinteressante
G1 (26 de março)
Veja (23 de janeiro)
G1 (5 de dezembro)
Wikipédia
Gizmodo Brasil (8 de dezembro)
Planetário do Rio (3 de novembro)
Portal Terra (1 de dezembro)
Blog Herton Escobar (O Estado de S.Paulo) (19 de junho)
BBC (25 de setembro)
Mensageiro Espacial (23 de setembro)
Veja (24 de setembro)
Scientific American Brasil
O Globo (20 de outubro)
APOD (20 de outubro)
EBC (21 de outubro)
History Channel (26 de outubro)
Space (25 de setembro)
El País (29 de outubro)
Voz da Rússia (29 de outubro)
Gizmodo (2 de novembro)
ZH (12 de novembro)
O Globo (12 de novembro)
MundoBit (12 de novembro)
Tecmundo (12 de novembro)
Veja (13 de novembro)
Info (3 de novembro)
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