Cientistas contestam 1ª evidencia de vida extraterrena em meteorito.

A notícia é de semana passada, mas vale apena dar um espaço especial a ela devido a grande repercussão que ela está causando.
Abaixo está o post "A bactéria e a polêmica" publicado dia 9 no Blog Observatório (do PhD em astronomia Cássio Barbosa) do site G1, em que ele explica e comenta um artigo sobre a descoberta de fósseis de micróbios semelhantes a bactérias em meteoritos.
Tambêm reproduzi 2 notícias sobre o assunto, publicadas no dia 7 pelos jornais G1 e Folha de SP.
O site do "Journal of Cosmology" é: (http://journalofcosmology.com/).

Vamos ao post do Blog Observatório, do G1:
"A bactéria e a polêmica", por Cássio Barbosa.
Estou de volta depois de dar um tempinho do blog para terminar um monte de relatórios e outras burocracias. Nem bem eu começo a escrever um novo texto e sai na sexta feira de Carnaval um anúncio bombástico: encontrada a primeira evidência de vida extraterrena em um meteoro! Acontece que os desfiles das escolas de samba ainda ocorriam neste final de semana e já havia um comunicado oficial da Nasa desassociando seu nome ao do autor do estudo. Isso sem contar a enxurrada de críticas que tanto autor e revista receberam de pesquisadores do mundo todo. Mas, o que houve, afinal?




Nesta última sexta feira, Richard Hoover um cientista da Nasa, publicou um artigo no “Journal of Cosmology”, em que afirma ter encontrado fósseis de micróbios muito semelhantes às bactérias terrestres, ao estudar fatias de vários meteoros. Segundo Hoover, estruturas filamentares encontradas nas amostras são bactérias fossilizadas, muito semelhantes a uma espécie de cianobactéria terrestre. Uma investigação das amostras em microscópio eletrônico indicaram um balanço entre elementos químicos desproporcional ao esperado se esses fósseis tivessem origem na Terra. Então por causa dessa semelhança visual e esse desbalanço na abundância de elementos, só poderia ser uma bactéria extraterrestre fossilizada.
E agora Arnaldo, isso pode?
Poder pode, mas será mesmo? Vamos ver.
Eu já tinha achado estranho que o artigo tinha sido publicado em uma revista de cosmologia, um trabalho desses não tem nada a ver com essa linha editorial. Esse artigo não foi nem citado pelos canais de divulgação científica da Sociedade de Astronomia Americana. Só para comparar, a Nasa anunciou durante uma semana uma descoberta espetacular a respeito de vida extraterrena e o que vimos foi aquele estudo das bactérias com DNA de arsênio, que não tinham nada de extraterrenas. Logo em seguida veio o porta voz da Nasa desassociando o nome da instituição aos resultados da pesquisa. Neste comunicado, Hoover foi tratado como um empregado da Nasa, mas que essa pesquisa não era patrocinada por ela.
Nesse domingo eu recebo um e-mail pedindo minha opinião. Bom, apesar de não se tratar da minha área de pesquisa, vamos lá.
Descobertas extraordinárias, exigem provas extraordiárias, já dizia Carl Sagan.
A descoberta de Hoover está baseada em análises visuais, com a comparação da morfologia entre estruturas na rocha e bactérias terrestres. Elas podem ser estruturas inorgânicas que se parecem com bactérias. A análise química dessas estruturas, por sua vez, mostra um desvio dos valores esperados de abundância para amostras terrestres, mas só isso, se esses filamentos forem inorgânicos, eles têm de ser extraterrestres mesmo!
A grande questão é que Richard Hoover não é um especialista na área. Ele é um renomado engenheiro, com várias patentes registradas, mas de 200 artigos publicados, 152 foram em revistas de engenharia sem processo de revisão por pares, que é um processo de revisão em que um, ou mais especialistas na área bombardeia seu trabalho com críticas e perguntas, com o intuito de ver se os resultados se sustentam. Esse mesmo trabalho havia sido enviado ao Jornal Internacional de Astrobiologia, que é muito mais apropriado, em 2007 e não conseguiu sobreviver ao crivo dos revisores. Por que será?
Eu li esse artigo e mesmo não sendo da área notei que faltava uma coisa. Nesse tipo de estudo, os pesquisadores enviam amostras do meteorito em questão a outros laboratórios especializados para que eles reproduzam os experimentos e tentem obter os mesmos resultados. Isso também não ocorreu.
Então o que aconteceu? Ao que parece uma simples contaminação externa. As amostras deste estudo fazem parte de coleções de museus e alguns meteoritos foram recuperados há mais de cem anos! Durante esse período eles têm sido manuseados intensamente, sem nenhum controle de contaminação rigoroso, se é que teve algum. Mês passado a revista Nature publicou um estudo em que os autores mostram que estruturas semelhantes às que foram encontradas por Hoover têm origem inorgânica. E aí?
A situação agora é a seguinte, o Jornal de Cosmologia convidou especialistas do mundo inteiro para criticar e apontar as falhas do artigo. Pediu também que esses especialistas convidassem outros pesquisadores para fazer o mesmo. O jornal pretende que 5 mil cientistas analisem e revisem esses resultados. Os editores prometeram publicar as opiniões pró e contra no site da revista e até agora já há duas dezenas delas. Nada definitivo ainda.
Pode até ser que daqui a uns meses, depois de mais e mais análises e discussões a conclusão seja de que esta é realmente a primeira evidência de vida extraterrana. Mas por ora, do jeito que a coisa foi feita, o cheiro é de queimado…

Abaixo está a notícia no Folha de SP, dia 7 de março sobre a descoberta:

"Cientistas contestam descoberta de bactéria extraterrestre."

Um artigo controverso assinado pelo astrobiólogo da Nasa Richard Hoover, que diz ter descoberto evidências de bactérias extraterrestres fossilizadas em três meteoritos que atingiram a terra, está sendo contestado por especialistas da comunidade científica.
Divulgado na última sexta-feira (4) na publicação científica americana "Journal of Cosmology", o estudo afirma que, durante uma análise da estrutura dos meteoritos, foram encontradas evidências de organismos similares às cianobactérias.
No entanto, a composição destes organismos seria diferente das bactérias terrestres. Segundo Hover, isto seria uma das provas de que eles não se infiltraram no meteorito na Terra, mas vieram do espaço.
O Journal of Cosmology recebeu duras críticas da comunidade científica, que alegam que a publicação não tem credibilidade --ela é independente e dá livre acesso aos artigos na internet-- e que a pesquisa de Hoover não reuniu as evidências necessárias para comprovar suas afirmações.

CONVITE A CIENTISTAS
As alegações do cientista são baseadas na investigação microscópica da estrutura interna do grupo de meteoritos do tipo Condritos Carbonáceos C1, que continha materiais supostamente originários do início do nosso sistema solar.
Dentro dos meteoritos, ele teria encontrado fibras que diz terem semelhanças com cianobactérias terrestres.
Mas, segundo o cientista, o tamanho, a estrutura e a composição química dos filamentos encontrados no meteoro não são consistentes com o que existe na Terra.
Ele também descartou a possibilidade de que as estruturas sejam resultado da contaminação local depois que os meteoritos caíram no planeta, dizendo que a quantidade mínima de nitrogênio encontrada neles mostra que são fósseis realmente antigos.
Em um comunicado, o astrofísico da Universidade de Harvard Rudolph Schild, editor do "Journal of Cosmology", disse ter convidado cem especialistas para comentar o estudo polêmico.
"Por causa da natureza controversa de sua descoberta [de Richard Hoover], convidamos cem especialistas que enviaram um convite geral a mais de 5.000 cientistas para revisarem o estudo e apresentarem suas análises críticas."
Segundo Schild, os comentários devem ser enviados até esta segunda-feira e serão publicados até o dia 10 de março.
O astrofísico disse ainda que o estudo é "profundamente importante" e que nenhum outro trabalho na história da ciência terá sido submetido a uma análise tão completa.
PANSPERMIA
Se as conclusões do trabalho de Hoover forem consideradas corretas, elas seriam uma forte sugestão de que a vida não é exclusividade da Terra e pode ter tido origem em outros lugares do universo.
Há décadas o conceito de panspermia --de que a vida não é exclusividade da Terra e teria chegado ao planeta por meio de, por exemplo, um meteorito-- é defendido por alguns dos cientistas ligados ao "Journal of Cosmology".
O repórter de ciência da BBC Neil Bowdler diz que as afirmações de Hoover ainda devem ser bastante discutidas.
"Se Hoover estiver certo, ele terá provado que a vida não é exclusividade da Terra. Mas isso é uma grande incerteza. É a primeira vez que tais afirmações foram feitas."
"Os cientistas ainda debatem as sugestões feitas por uma pesquisa em 1996, de que um meteorito continha evidências de bactérias fossilizadas de Marte", diz Bowdler.

Fonte: Blog Observatório, G1, Folha de SP, BBC Brasil.
Cientistas contestam 1ª evidencia de vida extraterrena em meteorito. Cientistas contestam 1ª evidencia de vida extraterrena em meteorito. Reviewed by OTÁVIO JARDIM ÂNGELO on 14:35 Rating: 5

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