Estamos sozinhos? Uma compilação do que sabemos até agora
Neste artigo, escrito por Saswato R. Das para o jornal americano The New York Times, o autor faz um pequeno resumo sobre como a humanidade viu a existência de outros planetas em outras estrelas e a possibilidade de vida nesses novos mundos.
Por Saswato R. Das
Recentemente, uma equipe internacional de astrônomos apresentou provas convincentes de que nossa galáxia está cheia de planetas do tamanho de Júpiter, à deriva entre as estrelas.
Fonte:
The New York Times (24 junho 2011)
HypeScience
GaeA (Grupo de Apoio em Eventos Astronômicos)
Por Saswato R. Das
Recentemente, uma equipe internacional de astrônomos apresentou provas convincentes de que nossa galáxia está cheia de planetas do tamanho de Júpiter, à deriva entre as estrelas.
Sozinhos no vazio, independentes de qualquer sol, esses órfãos cósmicos parecem encher os céus.
O astrofísico Takahiro Sumi comentou que poderia haver até 400
bilhões desses andarilhos solitários na Via Láctea. Isso reacendeu a
grande questão que todos esperam ser resolvida: estamos sozinhos no
universo?
Como se não bastasse isso, a NASA, em seguida, anunciou que sua nave
espacial Kepler, que está há dois anos em uma missão para encontrar
planetas do tamanho da Terra em torno de estrelas próximas, tinha
encontrado muitos candidatos totalmente inesperados.
Dos 1.235 planetas suspeitos até agora, cerca de um terço estão em
sistemas multiplanetários solares como o nosso. A julgar por essas
descobertas, parece que os planetas são tão numerosos quanto grãos de
areia.
Vinte e cinco anos atrás, apenas nove planetas eram conhecidos,
todos em nosso sistema solar. O resto só podíamos imaginar, alimentados
por um rico acervo de ficção científica, para o qual o espaço exterior
era uma fonte inesgotável de ideias.
E essa imaginação não é coisa nova. Os céus foram também objeto de
questões mais fundamentais, levantadas pelos grandes pensadores da
História. Epicuro, um filósofo grego antigo, se perguntou sobre a
pluralidade de mundos como o nosso.
O frade dominicano Albertus Magnus, que estava profundamente
interessado nas ciências físicas, ponderou se havia apenas um mundo, ou
mais, declarando que “esta é uma das perguntas mais nobres e exaltadas
no estudo da natureza”.
Cerca de 300 anos mais tarde, outro frade dominicano, Giordano
Bruno, proclamou a sua crença de que havia inúmeros sóis, cada um tendo
várias Terras; crença que, combinada com outras ideias consideradas
heréticas no momento, o levou a ser queimado na fogueira em 1.600.
Mas a ideia persistiu. Escrevendo sobre a formação do sistema solar
em 1.755, o filósofo alemão Immanuel Kant teorizou que outras estrelas
possuíam sistemas solares como o nosso.
Com tudo isso, parece estranho que apenas em 1.995 um planeta fora
do nosso sistema solar foi avistado. A descoberta, feita pelos
astrônomos suíços Michel Mayor e Didier Queloz, foi confirmada logo
depois por uma equipe independente dos Estados Unidos.
E encontrar “exoplanetas” (planeta extrassolares, que estão fora do
nosso sistema solar) não é fácil. Planetas não emitem luz própria,
apenas refletem a luz de suas estrelas. Dadas as distâncias
interestelares envolvidas, até mesmo as estrelas mais próximas de nós
não são muito visíveis, por isso é um desafio tecnológico
identificá-los.
Mayor e Queloz enfrentaram o desafio através de um espectrógrafo em
um observatório no sudeste da França. Eles observaram a oscilação
rítmica de uma estrela como nosso sol, conhecida como 51 Pegasi, criada
pela força gravitacional de um planeta em sua órbita.
Essa técnica tem sido usada desde então para encontrar muitos
planetas, mas sua dependência da oscilação de uma estrela tende a
encontrar apenas os planetas maiores que estão perto de sua estrela-mãe
(como os do tamanho de Júpiter), que a maioria cientistas acham que não
poderia suportar vida.
Existem maneiras de detectar planetas menores. A nave espacial
Kepler foi especificamente projetada para varrer uma parte da Via
Láctea e descobrir dezenas de planetas do tamanho da Terra perto da
zona habitável, determinando quantas das bilhões de estrelas em nossa
galáxia têm tais planetas.
Kepler monitora continuamente 145.000 estrelas na Via Láctea, a
procura do breve escurecimento de luz que indicaria que um planeta está
cruzando a frente de uma estrela.
A nova equipe internacional descobriu os planetas órfãos usando uma
técnica ainda mais misteriosa – microlentes gravitacionais – para
detectá-los. Com base na premissa de Einstein de que a gravidade dobra
a luz, é possível ver objetos escuros no céu, medindo a luz que dobra
das estrelas por trás deles.
Os astrofísicos, assim, viram 10 planetas andarilhos, do tamanho de
Júpiter, e estima-se que pode haver um ou dois deles para cada uma das
cerca de 200 bilhões de estrelas na Via Láctea.
E se planetas do tamanho de Júpiter, que são mais fáceis de
detectar, existem aos bilhões, certamente deve haver muitos outros
planetas do tamanho da Terra lá fora, girando em torno de suas estrelas
a uma distância certa para sustentar a vida, não?
Não sabemos ainda. E descobertas científicas como essa levam tempo
para serem digeridas pela população. A confirmação de que os planetas
são abundantes é o ponto culminante de uma revolução científica que
começou mais de quatro séculos atrás, com Copérnico, Galileu e Kepler,
que fizeram nosso planeta perder seu lugar especial no centro do
universo.
A cosmologia vigente antes de Copérnico – codificada pelo astrônomo
Cláudio Ptolomeu no primeiro século d.C. que, apesar de absolutamente
errada, foi aceita durante os próximos 1.500 anos – sustentava que o
sol, a lua e os planetas (seis outros conhecidos) giravam em torno da
Terra, sob um dossel de estrelas. Era um universo racional e bem
organizado, no qual a Igreja Católica Romana podia apontar com
autoridade o céu e o inferno.
Em seguida, Nicolau Copérnico, tímido polonês, apresentou um sistema
alternativo, no qual o sol substituía a Terra no centro do universo. Em
1.543, pouco antes de morrer, Copérnico finalmente teve coragem de
publicar sua teoria, que inspirou Galileu Galilei e Johannes Kepler a
prosseguir os estudos que se tornaram a astronomia moderna.
Numa época em que a ciência estava indissoluvelmente ligada à
religião, a Igreja Católica não se rendeu e abandonou seu universo
geocêntrico tão fácil. Galileu foi pego pela Inquisição, e mesmo tendo
renegado suas ideias, passou seus últimos anos sob prisão domiciliar.
Em 2.000, o Papa João Paulo II pediu desculpas formalmente pelo
julgamento de Galileu.
Mas não havia volta. Algumas décadas depois, Isaac Newton confirmou
as ideias de Kepler sobre o movimento planetário e descreveu as leis
naturais que moldaram nossa visão do cosmos desde então.
Uma vez que a Terra tinha sido deslocada do centro do universo, foi
uma questão de tempo antes do sol ser reduzido a uma estrela numa
variedade em um braço espiral remoto da Via Láctea, e a Via Láctea a
uma das cem bilhões de galáxias existentes, e, por fim, nosso planeta a
um grão de poeira cósmica.
Confirmamos a crença de Bruno de que inúmeros sóis existem, e Terras
inúmeras giram em torno deles. Porém, ainda não respondemos a “nobre e
exaltada” questão de Magnus: existem outros mundos, ou apenas o nosso?
Devido a tudo que temos aprendido, isso continua a ser possível –
mais possível do que nunca. Nesse momento, criaturas inteligentes,
moldadas por uma confluência de eventos improváveis ou forças
sobrenaturais, capazes de olhar para o céu, podem estar se perguntando:
será que estamos sozinhos?Fonte:
The New York Times (24 junho 2011)
HypeScience
GaeA (Grupo de Apoio em Eventos Astronômicos)
Estamos sozinhos? Uma compilação do que sabemos até agora
Reviewed by OTÁVIO JARDIM ÂNGELO
on
22:04
Rating:
Nenhum comentário