Reflexões sobre o ‘Nascer da Terra’: 50 anos depois

UMA DAS FOTOS MAIS MARCANTES DO SÉCULO 

Hoje, 24 de Dezembro, na véspera do Natal, é o dia que marca os 50 anos que o astronauta William Anders, da Apollo 8, tirou a imagem icônica da Terra nascendo acima da superfície lunar. Essa foi a primeira missão que levou homens para além da órbita da Terra e também a primeira com transmissão ao vivo.

Anders, autor da imagem, gosta de dizer que "viemos explorar a Lua e descobrimos a Terra", com Lovell ficando impressionado com o fato de que podia esconder todo o globo terrestre atrás de seu polegar ao ver a Terra de longe. "Mais de 3 bilhões de pessoas, montanhas, oceanos, desertos, tudo o que eu já conheci estava por trás do meu polegar", lembra ele.

O ano de 1968 foi marcado por assassinatos de peso (de Martin Luther King Jr. e do presidente Kennedy), tumultos generalizados, protestos sociais e a Guerra do Vietnã, então a boa notícia de que a NASA estava conseguindo levar humanos para a Lua com sucesso foi o respiro de esperança e união que os EUA tanto precisavam em uma época difícil. Inclusive, os astronautas aproveitaram a transmissão ao vivo durante a noite de Natal para ler os dez primeiros versículos do Livro do Gênesis, do Antigo Testamento — o que, apesar de críticas por misturar ciência com religião, acabou sendo um momento bonito e emocionante para a população norte-americana, com a câmera transmitindo imagens da superfície da Lua e também da Terra vista de longe enquanto os astronautas faziam a leitura. Na época, a transmissão foi o programa de televisão mais assistido da história do país.

O sucesso da Apollo 8 foi um verdadeiro alívio, pois, nas palavras de Jim Bridenstine (atual administrador da NASA), "se houvesse uma falha, destruiria o Natal não apenas de todos nos Estados Unidos, mas de todos em todo o mundo".
Frank Borman, James Lovell e William Anders ainda estão vivos. Borman e Lovell têm 90 anos de idade, e Anders tem 85. Borman conta que, depois de voltar à Terra, recebeu um telegrama apenas dizendo: "Obrigado, você salvou 1968".
William Anders, James Lovell e Frank Borman nos dias de hoje

E também foi Borman que encontrou "algo apropriado" para ser dito durante a transmissão ao vivo de Natal, escolhendo os versículos do Livro do Gênesis para tal. Ele conta que "todos tentamos por um bom tempo descobrir alguma coisa, e tudo se tornou banal ou tolo". Então o astronauta lembrou que a esposa de um amigo teve a ideia de eles levarem o Gênesis para a missão, e então Anders começou a ler, em voz alta: "No começo, Deus criou o céu e a terra...". Borman encerrou a transmissão dizendo que "a tripulação da Apollo 8 fecha com boa noite, boa sorte e um Feliz Natal, e Deus abençoe a todos vocês, todos vocês na boa Terra".

Na manhã de Natal, a nave deu a última volta ao redor da Lua e, na manhã do dia 27 de dezembro, a incrível jornada foi encerrada, com a revista Time classificando os três astronautas como os "Homens do Ano".
Borman e Anders nunca mais voltaram ao espaço. Lovell, no entanto, comandou a quase trágica Apollo 13, que enfrentou um problema durante o voo, com os astronautas precisando se virar durante a viagem para conseguirem retornar à Terra sãos e salvos — o resultado foi a sobrevivência dos astronautas, mas o fracasso em um novo pouso na Lua.

A imagem, conhecida como ‘Earthrise’ (Nascer da Terra), foi reconhecida como o início de um movimento ambiental global. Agora, o diretor do Centro de Astronautas da ESA, na Alemanha, e também astronauta Frank De Winne, compartilha a sua perspectiva sobre o nosso planeta visto do espaço.
Embora Frank não se lembre da foto ‘Earthrise’ na sua infância, ele lembra-se claramente do pouso na Lua, chamado naquela época de alunissagem.
“Os meus pais me acordaram para assistir. Ter que me levantar no meio da noite para assistir televisão foi muito impressionante”, diz ele.
Mal sabia ele que um dia estaria no seleto grupo de pessoas iriam para o espaço, passando 198 dias em órbita ao redor da Terra e ganhando toda uma nova perspectiva sobre o planeta que chamamos de lar.

Frank diz que cada experiência na vida tem um impacto, mas a fragilidade do nosso planeta, o fino de nossa atmosfera e a imensa natureza do universo impressionam quando se vai para o espaço.

“A outra parte, é claro, é que no espaço não há fronteiras”, explica ele. “Pode olhar o quanto quiser, mas não se pode ver uma fronteira entre a Alemanha e a Polónia ou entre a Polónia e a Ucrânia. Passamos milhares de anos lutando por linhas imaginárias num mapa que simplesmente não existem em órbita.”
O escritor White chama essa mudança de consciência de “efeito visão geral” e diz que, embora as ideias que Frank De Winne e que muitos outros astronautas descrevem sejam conhecidas intelectualmente por nós, é essa experiência direta que as torna tão poderosas.

Astronauta Frank De Winne, na Soyus

“Alguns dos astronautas que entrevistei falaram sobre ir ao Grand Canyon, nos Estados Unidos – pode descrevê-lo, pode falar sobre ele, pode tentar explicar, mas essa não é a experiência” explica ele.
Apesar disso, ele acredita que a imagem ‘Earthrise’ e outras tantas imagens captadas pelos astronautas desempenham um papel vital ao nos ajudar a entender melhor o nosso lugar no universo e a necessidade de um pensamento global.

“A ‘Earthrise’ amplificou o movimento ambiental aqui na Terra. É um bom exemplo de como, ao compartilhar as suas experiências com pessoas que podem não ter a oportunidade de viajar para o espaço, os astronautas podem influenciar o nosso pensamento e comportamento.”

Para Frank De Winne, o efeito geral permanece sempre presente, mas atualmente ele olha para a Lua.
“Percorremos um longo caminho desde que esta foto foi tirada,” diz ele. “Pisamos na Lua seis vezes. A sonda Rosetta pousou num cometa, sondas e rovers pousaram em Marte, estamos trabalhando em conjunto com vários países na Estação Espacial Internacional.

“Agora é hora de dar o próximo passo e ir em frente para a Lua – não para plantar uma bandeira e ser o primeiro, mas para realmente explorar como uma comunidade internacional em benefício da Terra."


 - Da Terra Para As Estrelas, por Otávio J. Ângelo. Escrito em 24 de dezembro de 2018

Fonte: 
ESA (European Space Agency)
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